Os treinadores estrangeiros e o futebol brasileiro

Não vou deixar o leitor ansioso a respeito de parte da minha visão sobre a recente “estrangeirização” do mercado brasileiro de treinadores de futebol. Prometi no último post e vou cumprir!

O jogo de futebol, em todo o mundo, está mudando pra melhor e com isso crescendo as dificuldades por vitórias. O fenômeno se evidencia ainda mais quando trata das competições brasileiras. Olhem as tabelas dos campeonatos nacionais das Séries A e B, por exemplo. Estamos já na metade dos respectivos campeonatos e não conseguimos apontar favoritos a nada!

Por vários motivos, não gostaria que os treinadores estrangeiros saíssem do Brasil reclamando apenas do calendário e do tempo que recebem para trabalhar. Seria bom que eles percebessem as dificuldades de jogar futebol no Brasil também pelas peculiaridades que o nosso jogo apresenta. Algumas delas:

  • Muitos clubes são candidatos aos títulos em todas as competições;
  • Jogadores habilidosos em abundância;
  • Interferência de viciosos paradigmas táticos da Escola Brasileira de Futebol;
  • Perfil tático de jogo muito arrojado ofensivamente, isto pra todas as equipes, indiferentemente às divisões que frequentam.

Ainda que com alguns “defeitos de fábrica”, os jogadores brasileiros são diferenciados no quesito habilidade e estão em abundância no mercado nacional. Continuo afirmando que temos muitos jogadores de qualidade. Precisamos é melhorar o nosso jogo. Se não fosse assim, como explicar o Brasil como maior fornecedor de jogadores para a melhor competição mundial de clubes, a Champions League?

Vivemos um ambiente futebolístico  que respira, valoriza e exige vitórias em quaisquer circunstâncias. Todos os clubes querem e se julgam competentes para ganhar, ser campeões e ou subir de divisão! Esta é uma particularidade que parece só existir por aqui. E nós, brasileiros de todas as cores de camisa, fazemos valer o poder da mensagem que diz: “sem saber que é impossível, vamos lá e fazemos”!

Este quadro precisa ser percebido pelos treinadores estrangeiros que estão tendo a oportunidade de treinar equipes brasileiras. Se saírem daqui apenas com a impressão que levam da nossa gestão esportiva confusa, não vão tirar todas as conclusões necessárias. Por exemplo, o Cruzeiro, bi-campeão brasileiro em dois anos consecutivos, passa a brigar contra o rebaixamento nos dois anos seguintes. Isso só acontece no Brasil! Por incrível que pareça, as dificuldades mais evidentes do futebol nacional passam a ser pano de fundo para este “querer ser campeão” que todos nós abraçamos.

Vemos também algo especial acontecendo nos bastidores: grande parcela dos treinadores nacionais já está trabalhando o jogo e os jogadores brasileiros sob o contexto moderno do futebol internacional. Uma nova geração que constrói o jogo ao invés de escalar times chegou ao nosso mercado. Somente isso tornaria as “pelejas” mais acirradas por aqui. Essas e outras que me escapam, são facetas do nosso ambiente futebolístico que eu gostaria que os treinadores estrangeiros percebessem.

No futebol, o brasileiro já nasce com obrigação de vencer sempre. E por mais contraditórios que às vezes parecem ser os nossos anseios em relação aos resultados que conquistamos, somos autossuficientes o bastante para manter os narizes em pé contra qualquer adversário. Definitivamente, o “complexo vira-latas” não nos acomete no futebol! Mesmo depois do “7 a 1”! Ainda bem!

Muitas histórias vitoriosas foram construídas ao longo dos anos e não serão fáceis de apagar. O DNA de vencedor pulsa forte em nossas veias. E digo que não tardará darmos a volta aos maus resultados que nos rondam! Acredito muito que as palavras do Paul Britner vão se confirmar mais rapidamente do que se espera. Estamos aprendendo a jogar o jogo moderno e retomaremos espaços no cenário internacional, apesar de todas as dificuldades.

O que procuro trazer nessa reflexão é que os treinadores estrangeiros serão sempre muito bem vindos, mas nenhum deles, assim como os nossos, é capaz de realizar milagres na conjuntura futebolística brasileira. Além disso, peço aos “gringos” que por aqui passarem que procurem encontrar outras razões para os sucessos e insucessos nas competições. Assim como em todos os lugares do mundo, no Brasil também não serão extraordinários nas vitórias e muito menos desastrados nas derrotas.

Aliás, algo é preciso dizer sobre os resultados dos técnicos estrangeiros no Brasil. Nos últimos anos, quando a importação de treinadores se avolumou, não vimos grandes feitos em suas atuações. Até porque, dentre as muitas dificuldades que enfrentamos, treinadores nacionais e estrangeiros, os colegas forasteiros também não tiveram tempo suficiente para trabalhar, apesar de resistirem mais tempo aos maus resultados que os brasileiros

Como diz um treinador amigo, se pelo menos nos dessem o mesmo tempo que estão dando aos estrangeiros, talvez chegássemos a resultados melhores! Não é difícil assim concluir se considerarmos que conhecemos profundamente a cultura esportiva na qual estamos envolvidos e também estamos passando por um processo de qualificação profissional (Cursos CBF) que nunca experimentamos antes.

Conto com a compreensão do leitor para se contentar, por enquanto, com o que foi posto. Não conseguirei escrever o conteúdo necessário a esclarecer um assunto tão complexo neste pequeno espaço, mas prometo voltar ao tema sempre que surgirem oportunidades.

Grande abraço…

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