Os erros técnico e decisional
O erro técnico num jogo de futebol é o erro na execução do gesto – nos muitos contatos que o jogador tem com a bola.
O erro decisional é o erro tático, da tomada de decisão – passar, chutar, driblar, conduzir, ou…? O quê fazer para a resolução dos vários problemas que a dinâmica de um jogo tão complexo impõe?
Os dois erros podem aparecer juntos ou separados em uma mesma situação de jogo, mas devem ser interpretados diferentemente – são de naturezas distintas no arquivo sensório-motor dos jogadores.
No aprender e treinar a técnica o atleta costuma falhar devido à incapacidade coordenativa, falta de atenção e dedicação na execução dos gestos, desarranjos na didático-pedagogia do ensino dos fundamentos, dentre outros.
Já a falha decisional tem componentes causais no ensino e correções das táticas do jogo, na capacidade cognitiva dos jogadores, além de outros, mas, destacadamente na cultura tática que forja o ambiente que constrói o jogo. Temos muitas más influências e interferências no entender e fazer futebol dos brasileiros, por exemplo
Erros decisionais costumam persistir em decorrência da ignorância e ou passividade com que são interpretados, aceitos e reforçados quando acontecem. É preciso combatê-los incondicionalmente, se queremos construir jogos coletivos e com qualidade.
O erro decisional merece atenção especial da didático-pedagogia aplicada à construção do jogo. O quê pede o jogo atual? Quais são as melhores tomada de decisões projetadas para o jogo que estamos treinando?
Esses e outros questionamentos devem constantemente incomodar a mente do treinador-construtor de jogo. E, a partir daí interferir no desenrolar tático decisional dos seus jogadores e equipe. Sempre com prudência e pontualidade!
Hoje em dia, a classe de treinadores brasileiros enfrenta momentos difíceis e nunca vividos antes em nosso país. Fazer valer suas ideias táticas de jogo me parece ser um argumento poderoso para uma virada do quadro atual! Nos fragilizamos muito quanto ao poder da imposição das nossas capacidades de construtores e gestores do jogo.
Voltando ao foco da nossa reflexão, apesar de tudo ser uma coisa só no futebol, a maneira como aceitamos e lidamos com os erros decisionais do jogo se transformou num grande entrave para o sucesso dos treinadores. É comum assistirmos “os professores” projetando suas ideias de jogo com modernos requintes táticos em suas dinâmicas, e na prática de campo não as vermos se concretizar. Onde estariam as falhas?
O jogador nunca estará contextualizado à dinâmica de um jogo de futebol, quando joga livre de responsabilidades táticas coletivas e faz o que quer, em qualquer espaço do campo ou situação de jogo! Jogadores e equipes precisam ser táticos e tomar decisões sempre orientados pela ideia tática do jogo que os rege.
O futebol, como esporte coletivo e na versão moderna que assumiu nas últimas décadas, é essencialmente decisional em favor das ações coletivas. Treinadores, principalmente, e jogadores precisam estar conectados à essa corrente de pensamento e fazer valer esse preceito. Hoje, os treinadores são especialmente responsáveis por tudo que seus jogadores e equipes fazem em campo.
Os modelos de jogo nunca estiveram tão dependentes da competência dos treinadores como agora estão. Não por acaso, costumo dizer:
– Algo acontece entre o campo de treino e o campo de jogo, que faz a diferença entre treinadores e equipe!”
E isso não tem nada a ver com redução de importância no protagonismo dos jogadores. Muito menos com a proibição do uso da arte e criatividade individuais no jogo de futebol. O imponderável, provocado pelas individualidades ou outro qualquer elemento interferidor do jogo, estará sempre contemplado em modelos táticos inteligentemente projetados e construídos.
Vinícius Júnior, craque do Real Madrid, talvez o maior destaque dentre as individualidades do futebol moderno, escancara ao mundo a importância que exerce sua arte e criatividade no modelo de jogo coletivo do treinador Carlos Ancelotti. Suas participações são sempre repletas de dribles, rompimento de linhas, com bola e sem bola,…, mas também muito jogo associado com trocas de passes e assistências. Tem sido, no Real Madrid, um jogador diferenciado e com alto índice de acerto nas tomada de decisões táticas que o jogo coletivo do seu time pede.
Nunca haverá jogo coletivo, com eficiência e eficácia na prática dos conceitos, princípios e comportamentos táticos, num jogo recheado de erros decisionais. Dessa forma “as táticas não se conectam” e a ideia de jogo em construção é ferida brutalmente em sua essência!
Se quiser dividir muito mais sobre futebol, o treino e o jogo, venha passear comigo por essas páginas!
Foto: Mateo Villalba/Getty Images