O “ataque aposicional” do Fernando Diniz

Existem maneiras distintas de organização para um jogo de futebol. Tanto para atacar, quanto para defender.

Hoje vou falar sobre organização ofensiva, pois quero me referir a detalhes do jogo do Diniz.

Ao contrário do que parece e se propaga, Fernando Diniz pratica dois modelos de organização ofensiva em suas equipes, o posicional e o “aposicional” – este último nominado por ele mesmo.

O seu ataque posicional não obedece a rigores na distribuição espacial dos jogadores, mas se expande bem, explorando a largura e profundidade do campo. E com muita posse de bola.

o seu “ataque aposicional” apresenta aglutinação volumosa de jogadores próximos à bola e posse com passes curtos e intenção de criar superioridade numérica e verticalidade. Esse tem sido um diferencial do jogo do Diniz e o que tem causado frisson ao futebol brasileiro.

Desde a zona média do campo, preferencialmente, o jogo do Diniz costuma “chamar o adversário pra dançar” e parte pra cima com a sua envolvente posse de bola.

– Não é fácil marcar, principalmente em jogos inspirados.

O mais interessante nisso é que o jogo de posse costuma naturalmente inspirar jogadores e equipes, o que favorece às respostas que temos assistido. A escolha desse perfil de jogo pode ter a ver com esse diferencial, também.

Os  times do Diniz são conhecidos há alguns anos e  costumam apresentar jogos inspirados mais vezes que o normal, sempre com muita posse de bola.

Minhas considerações não pretendem enaltecer a infalibilidade no jogo do Diniz. O futebol não credenciou certeza de vitórias a nenhum modelo de jogo até hoje construído. O do Fernando Diniz não foge à regra.

– Mas que tem algo de diferente e muito bonito de se ver no jogo dos seus times, ah…, isso tem!

Táticas coletivas e de grupos valorizam o jeito especial das suas equipes jogarem:

  • posse de bola corajosa, artística, envolvente e progressiva;
  • fortes reações defensivas à perda de bola;
  • participação solidária dos dez jogadores de linha em ações ofensivas e defensivas;
  • proposta ofensiva, sempre;
  • organização defensiva com blocos compactados;
  • dentre outras, que somente o Fernando poderia nos apresentar.

Tenho alertado os entusiasmados pelo jogo dos times do Diniz quanto aos cuidados em usar indiscriminadamente o seu modelo de jogo.

Sua obra é fruto de muitos anos de prática, com erros e acertos, idas e vindas, assim como é em tudo de valor na criação humana .

Fernando Diniz merece os louros que vem alcançando e precisa de tempo para que suas ideias se estabeleçam e sirvam de modelo para o futebol em geral.

Inovar no futebol é ato de muita coragem e não se faz sem competência e ciência!

Apesar do Fernando Diniz dizer que o seu jeito de jogar tem algo de cultural do jogo brasileiro, concordo com isso, não me lembro de ter visto, na plenitude, esse perfil de jogo ser jogado por aqui.

Que o jogador brasileiro “gosta da bola”, é fato. Que o jogo apoiado do Diniz nos faz lembrar a raiz do futebol de rua, também é fato!

Mas, levar isso para o alto nível, “abusar dos adversários” como faz em muitos momentos do seu jogo e ser campeão da Libertadores, foi fato, muito menos comum de se ver!

Tem ciência tática e psicológica, e merece ser enaltecido! O treino das táticas, dentre outros argumentos de jogo, são ciência pura. E, se há uma coisa nítida no jogo do Diniz, é que o treinamento ordena a sua construção. Tem muita ciência nisso!

Além do gênio técnico que o acompanha desde o início da sua carreira, Fernando Diniz esbanja sabedoria e a humildade dos grandes homens, quando fala das conquistas do seu jeito de jogar! Ensinou o Brasil, os brasileiros, e principalmente os nossos treinadores, a serem campeões de verdade!

Parabéns ao Fernando Diniz, seus auxiliares diretos, jogadores e todo o pessoal de apoio que fizeram com que as coisas acontecessem no Fluminense!

Parabéns aos dirigentes do Fluminense que apostaram, acreditaram e valorizaram o diferente no futebol!

Que o Time Diniz tenha o tempo que precisa na Seleção Brasileira para fazer no jogo canarinho o que fez no do tricolor das Laranjeiras!

“Babei muito no Diniz”, não foi? Mas é exatamente o que eu penso, viu professor?!

Neste final de ano, teremos surpresa boa para os que sonham ser treinadores de futebol. Aguardem!

 

Foto: Caique Coufal / Eurasia Sport Images / Getty

Quer receber mais conteúdos como esse gratuitamente?

Cadastre-se para receber os nossos conteúdos por e-mail.

Email registrado com sucesso
Opa! E-mail inválido, verifique se o e-mail está correto.

Fale o que você pensa

O seu endereço de e-mail não será publicado.