O jogo de futebol aos brasileiros
É preciso apresentar o novo jogo de futebol à comunidade futebolística brasileira.
Princípios, conceitos, métodos de treinamentos, modelos de jogo e tudo que atualmente gira em torno da construção da dinâmica do jogo de futebol. Tudo isto e muito mais são as novidades que cercam este universo nos tempos atuais. No Brasil, é incrível como custamos a enxergar a existência de algo que extrapola a importância exclusiva das individualidades em campo. Paradoxal nos parecerá afirmar, mas ainda é a qualidade dos nossos jogadores que segura o nosso jogo.
E se racionalizássemos a utilização dos talentos brasileiros na concepção de jogo moderno? Este é o grande ponto desta nossa reflexão.
Quando uma equipe não consegue cruzar bolas na área adversária, a culpa geralmente será direcionada aos laterais. Quando não faz gols, os atacantes são diretamente responsabilizados. Se sofre gols, é preciso trocar o goleiro ou os zagueiros. E assim vamos concebendo a natureza de um dos jogos coletivos mais complexos dentre os que existem. Enquanto isso, o que fazemos para o ensaio do conjunto? E a dinâmica do jogo, como é treinada e organizada no balé das onze peças que defronta outras onze no espaço de um campo de futebol sob as influências de várias circunstâncias?
Ao avaliarmos a qualidade do jogo brasileiro, não há como desconsiderar o ambiente de pressão que existe a nossa volta. “A bola tem de entrar de qualquer forma!”, esse é o lema! Isto, por si só, já traz consequências danosas ao jogo. Algo é preciso ser feito para que os treinadores tenham mais tempo e tranquilidade para trabalhar. A pressão em volta do jogo brasileiro tem sido a causa principal da sua descaracterização.
A verdade é que a ansiedade do ambiente aliada à evasão de talentos, calendário de competições descompassado, dentre outros fatores, nos faz passar por esta fase de transformação mundial do jogo sem percebermos o que acontece. Há mais ou menos trinta anos atrás, o mundo achava que o jogo de futebol se transformaria em grandes batalhas físicas de campo. Os anos se passaram e os atributos físicos receberam seus louros, mas com outra conotação. A especificidade das valências físicas, técnicas, psicológicas e táticas hoje são tratadas de forma “especial” em treinamentos e jogos e adequadas à prática de um jogo coletivo, ou melhor, um jogo tático.
A Alemanha também pensava que iria manter sua força com a valorização dos requisitos físicos em um jogo que caminhava para este foco. Percebeu que não seria bem assim no transcurso das transformações. Refez seus conceitos para não perder o trem da história como protagonista no cenário internacional.
O jogo moderno aponta para a importância tática alterando o foco técnico de antigamente. O que se fazia no jogo com o poder das individualidades, não se faz hoje sem o poder do treinamento e das ações de conjunto.
A periodização tática, um método sistêmico de treinos do futebol, mostrou ao mundo uma nova tendência. No Brasil, como não poderia deixar de ser, há resistências. Os saudosistas dizem: – existe uma tal de periodização tática aí, que algumas pessoas acham que é a melhor forma de treinar! Mal sabe essa gente que a periodização tática está disponível na literatura há mais de quarenta anos. José Mourinho deu maior destaque à aplicação do método de treinos formulado pelo professor português Victor Frade.
Eu afirmo que não só a periodização tática, mas o método sistêmico em geral, é a forma mais inteligente, dentre as que possuímos hoje em dia, para desenvolver o jogo de futebol moderno. Não há mais como descontextualizar o treino no futebol! É preciso vestir os nossos métodos de treinos com a roupagem da metodologia sistêmica.
Um time bom, não começa mais por um grande goleiro!! Não devemos cuidar primeiro da “cozinha” como preconiza alguns dos nefastos paradigmas que ainda ditam normas táticas no futebol brasileiro! Não há lugar para um “meia 10” que “coloca a bola debaixo do braço” e chama a equipe para uma “tranquilidade tática” no jogo!
O jogo de hoje deve ser concebido e construído sob a visão sistêmica. O jogo e o treino devem ser vistos com os olhos da complexidade sistêmica que faz parte indissociável da sua natureza.
Que bicho mais confuso e complexo! O mais interessante é que esta fórmula é muito simples. É preciso, no entanto, que a comunidade esportiva brasileira acerte alguns ponteiros do seu relógio de entendimento sobre o jogo para perceber as transformações e transformar os treinos e jogos para a realidade atual. Para ficarmos só nas quatro linhas, ainda somos muitos os que seguram a natureza do jogo de futebol em retrógrados paradigmas táticos.
Treinadores, dirigentes esportivos, mídia especializada, jogadores e como consequência, os torcedores, todos têm de entrar nesta nova era de concepção e construção do jogo de futebol. Só assim veremos transformações como assistimos na qualidade de jogo dos alemães e ingleses, por exemplo…
Até a próxima!
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